PROGRAMA
PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado , 04 setembro de 2021
Entrevista:
Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:
LUIZ ANTONIO ROLIM
O Professor Doutor Luiz Antonio Rolim, é uma das personalidades marcantes
na cidade de Piracicaba. Sua vasta cultura e seu carisma, envolvem desde um
único interlocutor até uma plateia com centenas de pessoas. Carrega a
simplicidade dos sábios. Nascido na cidade de Garça, a 1 de setembro
de 1940, filho de Antonio Ferraz Rolim e Maria Alice Rolim que tiveram
também os filhos: Célio Augusto Rolim, e José Carlos Rolim.
Luiz Antonio Rolim é casado com Léia Maria Guimarães Rolim,
Assistente Social, foi por vários anos coordenadora do
SEAME- Serviço de Apoio ao Adolescente com Medida Socioeducativa.
São pais de quatro filhos: Fernanda, inclusive ela é Promotora de
Justiça em Piracicaba, Titular da 4ª Vara Criminal; Fábio Coordenador
do Instituto de Patrimônio Histórico em Brasília Cláudia e Renata.
Tem nove netos.
Qual era a atividade profissional
do pai do senhor?
Ele era Funcionário Público
Federal, era Exator da Receita Federal. Viemos para Piracicaba, onde o meu pai
permaneceu por muitos anos na então Coletoria Federal, situada na Rua XV de
Novembro entre a Rua Governador Pedro de Toledo e Rua Boa Morte. O Sr. Shirley
Prado, a Srta. Joana Nischimura cujo pai, Oscar Nischimura era proprietário do
Restaurante Alvorada, situado na Praça da Catedral. Outros
funcionários trabalhavam também na Coletoria. Uma característica interessante é
que havia uma sala cofre muito grande. Meu tio Deusdedith Ferraz Rolim era
Delegado do Imposto de Renda de Piracicaba e região, isso foi por volta de 1950
aproximadamente.
Os irmãos do senhor seguiram quais carreiras?
O Célio formou-se em Pedagogia, e
depois entrou no Banco do Brasil, na época trabalhar no Banco do Brasil era um
cargo muito importante, o funcionário do Banco do Brasil descava-se na
sociedade. O José Carlos cursou Agronomia. Tornou-se professor na Escola de
Agronomia em Araras, aposentou-se e está por lá. O Célio está por aqui também.
Aposentado. Minha mãe era o que na época denominavam “do lar”, portuguesa. Em
decorrência disso estamos no final do processo para dupla nacionalidade, dos
filhos e dos netos.
Qual é a origem do sobrenome Rolim?
A origem é francesa. Por volta de
1700 apareceu na França um tal de Nicolá Rollin. Ele foi chanceler se não me
engano de Luiz XIV, era uma grande figura política, criou um hospital no sul da
França. Existe um livro com a árvore genealógica da família do meu pai, não
está comigo. O pai do meu pai, meu avô, Paulino Ferraz Rolim, foi professor
durante muito tempo em Rio das Pedras. Tanto é que a cidade denominou uma rua
com o seu nome.
Até que ano o senhor permaneceu em
Garça?
Em Garça eu fiquei até 1952. A minha
família continuou lá, eu fui para o Seminário de Lins. Onde permaneci por sete
anos. Por isso que eu dava aula de latim! Grego, italiano. Estudava de tudo.
Era a Ordem Secular. Eu era da Diocese de Marília e fui estudar na Diocese de
Lins, a cerca de cento e poucos quilômetros de distância.
Como foi a adaptação, ainda um
menino com 12 anos , sair de casa, para um ritmo de vida totalmente diferente,
deixar a família, não deve ter sido muito fácil não.
Acaba adaptando-se! Na realidade
era um regime feudal! A educação, a disciplina, naquela época não podia
conversar tal dia, mas jogava futebol, brincava, eu agradeço porque realmente
lá eu tive uma educação muito estruturada, recebi o ensino de grego, latim, foi
bom. A disciplina era feudal!
É o que está faltando hoje?
Se não tanto pelo menos um pouco.
Na época a Igreja muito respeitada. Eu vim para Piracicaba em 1957, na época
havia cerimonias Cívicas, Militares e Eclesiásticas, eram celebradas pelas autoridades
cívicas, militares e eclesiásticas!
O senhor deligou-se do Seminário?
Eu saí. Minha família já estava
morando em Piracicaba, vim para esta cidade. Continuei meus estudos no
Instituto Sud Mennucci, cursei o que na época era chamado de “Curso Científico”.
Fiz o Clássico, que era voltado para línguas, ciências humanas. Tive aulas com
o célebre Benedito de Andrade, Caixeta, Arquimedes Dutra, Demóstenes, Argino
que lecionava matemática. No Seminário aprendi a tocar órgão, inclusive órgão
de tubo. Ficamos uns quatro anos tocando em casamento, éramos eu e o Waldir
Belluco tocando violino. Tocamos em muitos casamentos, ganhávamos um
dinheirinho. O Sérgio Belluco irmão do Waldir, tocava violão. Fomos tocar na
escola do Mahle, na Orquestra Sinfônica de Piracicaba. Fui tocar contrabaixo.
Fiquei alguns anos tocando lá. Tempo em que a Cidinha Mahle. o Maestro Ernest
Mahle. Fui tocar com o Maestro Germano Benencase ( Hoje é homenageado com o seu
nome dado a uma escola de São Paulo). Ele tinha uma orquestra voltada mais para
reuniões, saraus, lá estava também o Egídio Rizzi (Gildinho), Waldir Belluco,
uma turma muito boa. Aí eu fui tocar na Pedrinho e Sua Orquestra, ensaiávamos
no salão da Banda União Operária, na Rua Santo Antonio. Nessa orquestra ei
tocava contrabaixo também. Tocávamos em bailes, festas de debutantes, éramos
contratados para tocar aqui em Piracicaba, em outras cidades, era uma festa!
Nessa época o senhor estava com
quantos anos?
Eu devia estar com 22 a 23 anos de
idade. Por volta de 1961 fui trabalhar na “Folha de Piracicaba” de propriedade
de Cecílio Elias Netto, na época havia também o “Jornal de Piracicaba”, o
“Diário de Piracicaba”. Na Folha estávamos Antonio Messias Galdino, eu, João Maffei.
A Folha foi vendida. Fomos trabalhar com o Sebastião Ferraz no Diário de
Piracicaba, na Rua Prudente de Moraes entre a Rua Alferes José Caetano e Rua
Santo Antonio. No prédio que foi propriedade de Terêncio Galesi. O prédio
existe até hoje. O Geraldo Nunes trabalhava lá. O Ferraz estava querendo parar
de trabalhar. No fim fizemos uma negociação o Cecílio assumiu. O Ferraz saiu e
mudamos para “O Diário”.. Eu digo nós porque estávamos sempre um na casa do
outro, eramos muito amigos. Fiquei um tempão lá!
Nesse meio tempo o senhor lecionava
também?
Não dava aulas. Só advogava. Quando
terminei o curso Clássico no Sud Mennucci, entrei em Direito em Bauru, ia de
carona, com o carro de um ou de outro, ia com o Milton Rontano, pai do Edson
Rontani. Na época, quase todos os advogados de Piracicaba se formaram lá. Da
minha época estavam o Ovídio Sátolo, o Galdino, Antonio Orlando Ometto, Pedro
Negri e outros, éramos um grupo grande de Piracicaba. Me formei em Bauru, Na
época surgiu uma lei que autorizava as pessoas que tivessem trabalhado um
período grande em jornais, poderiam obter o título de jornalista. Através dessa
lei, sou Jornalista Profissional, registrado, Eu, Galdino, João Maffei. Comecei
em “O Diário” em 1963. Chegou uma época em qie o Cecílio vendeu as ações, e eu
fiquei diretor. Ficamos eu, Celsinho Elias, Gabriel Elias, não sei se o Adolho
Queiroz estava nessa. Tempo do Luiz Forti, João Maffei, Cerinha, Mauricio
Cardoso, Mário Terra, Carlinhos Gonçalves os linotipistas eram entre outros o
Sérgio, o Toninho. O operador da sala de títulos era o Manoel Mattos Filho, que
aos poucos estava passando a ensinar o revisor João Umberto Nassif a operar o
então “sofisticado” equipamento”! Araken
Martins, Jago. Eram diagramadores que faziam ilustrações marcantes. Grandes
nomes foram colaboradores entre eles: Benedito de Andrade, João Chiarini,
Caetano Ripoli, Roberto Antônio Cêra, o Cerinha. Marisa
Bueloni, Alceu Righetto, Carlos Colonese. A seção “Recasos ocupava de uma a
duas páginas, era um sucesso. Evaldo Vicente por um bom período foi o
Editor-Chefe de “O Diário”.
Era uma época romântica?
Eu permanecia até fechar o jornal
(concluir a edição). Depois saia e ia tomar chope com a turma. (Nessa época era
praxe após o fechamento da edição do jornal, praticamente toda imprensa
paulistana também tinha esse hábito, iam bater papo e relaxar tomando um chope,
não havia internet, os grandes jornais tinham serviço de rádio escuta, o “furo”
jornalístico era quase como um troféu). Ficamos um tempão em “O Diário”. O
Cecílio queria ir para São Paulo, sua paixão era escrever livros. A T.Janer era
a empresa que fornecia o papel para impressão do jornal. Nesse tempo entrou a
Renata, irmã do Celso Elias. Filha do Toninho Elias e Inês Seghesi. Era uma
luta muito grande, manter as finanças de “O Diário”. A M.D. Participações
acabou adquirindo “O Diário”. O Dr. João Fleury veio trabalhar em “O Diário”. O
Jornalista Nelson Bertolini também foi contratado. A essa altura eu já era
vereador, tinha o meu escritório de advocacia,
Em que ano o senhor foi eleito como
vereador?
Foi em 1973. Nessa época Adilson
Maluf, Galdino, Jairo Mattos, também foram eleitos.
Na época vereador já tinha salário?
No início não. Os dois primeiros
anos não recebemos nada.
O senhor colocava gasolina no seu
veículo com dinheiro do seu bolso?
Exatamente! Não havia carro
oficial, era o meu carro mesmo! Por volta de 1976 é que surgiu essa lei pagando
o salário do vereador, era uma lei feita pelo governador Paulo Egydio Martins,
para o Estado de São Paulo. Essa lei foi revogada. Acabamos não recebendo nada.
Depois o Paulo Maluf foi eleito como Governador. Na época em que a Caterpillar
veio para Piracicaba o prefeito era Adilsom Maluf, quem marcava as entrevistas
com o governador era o deputado federal Athié Jorge Coury, da ARENA, jogou no
Santos, foi seu presidente por muitos anos. O Adilsom p chamava de tio, o
Adilson, eu, ficamos no apartamento dele em Brasília. Deixei de ser vereador e
passei a ser assessor jurídico na Câmara dos Vereadores. Fui Vice-Presidente da
OAB, Secretário da OAB, no tempo de Antonio Dumit Netto que foi presidente da
OAB de 1976 a 1981. Foi quando conseguimos construir a nossa seção na Avenida
Independência. Eu era muito amigo do Deputado Federal João Pacheco Caves e o
Deputado Estadual Francisco Antonio Coelho, éramos filiados ao MDB. Reuníamos
na Chácara do Pacheco Chaves. No dia em em que ele vinha ele me ligava, íamos,
Adilson, Coelhinho e eu, passávamos madrugada adentro conversando. Saíamos as
quatro ou cinco horas da manhã. O Adilson e eu íamos sempre à Brasília, de
avião, para contatar Ulysses Guimarães. Nos reuníamos, uma ocasião em uma
dessas reuniões, abordei determinados assuntos, Ulysses Guimarães, com sua
sabedoria sisse: “ Rolim, não se esqueça que em política sinceridade é
imprudência”. Se você é sincero na política, está brigando com ele agora,
amanhã poderá precisar do voto dele em um projeto de lei!
Qual era a sua impressão sobre
Ulysses Guimarães?
Gente séria, muito amigo. Ele era
de Rio Claro, ele vinha sempre para Piracicaba. Eu era delegado do MDB, eu ia
para São Paulo para votar nas indicações do partido para deputados, senador.
Lembro-me de que em uma ocasião tinha que votar para escolher um candidato do
partido para senador, havia dois candidatos: Franco Montoro e Orestes Quércia. Fomos
almoçar: Coelho, Pacheco, Adilsom, Quércia. Chegou o radialista Nadir Roberto e
perguntou-me: “Levando em consideração a honestidade em quem o senhor vai votar
para ser candidato a senador: Franco Montoro ou Quércia? Ele gravou a minha
resposta na hora ele falou muito rápido, somado ao barulho natural das pessoas
falando, eu não percebi exatamente o que ele tinha dito, a não ser em quem eu
iria votar, disse-lhe: “Vou votar no Franco Montoro! ”. Dali fomos para a casa
do Coelhinho. O Quércia, Pacheco, fomos todos para lá. A seguir o Quércia foi
embora, para Campinas, de carro, dali a uma meia hora tocou a campainha, era o
Quércia,ele disse-me : “Você me chamou de desonesto! Você falou para o rásio,
que entre o Montoro e eu, considerando a honestidade você preferia o Montoro”.
Isso deu um rolo! Ao formular a pergunta o Nadir incluiu a palavra honesto no
meio, eu não tinha percebido. Brigamos o Quércia e eu. Uns três anos depois, já
era a indicação do João Hermann se não me engano, o Aprilante, o Jairo Mattos
também eram candidatos a prefeito de Piracicaba, eu estava no banheiro, quando
entrou o Quércia, Ele olhou feio para mim. Eu olhei feio para ele.
Eu estava lavando as mãos quando
ele me perguntou “Você está bravo comigo ainda? ”. Disse-lhe que não. Voltamos
as boas. Teve uma época em que o Mugão foi para São Paulo, como assessor do
Quércia. Fepois ele foi candidato a vereador, e todo mun o conhecia como Mugão.
Ele disse-me: “Rolim, o problema é que todo mundo vai votar no Mugão! Meu nome
é José Inácio Sleimann. Como é que faz?
Entrei com uma retificação de nome, incluindo no nome dele “Mugão”.
Ficou José Inácio Mugão Sleimann.
O senhor começou a dar aulas na
Universidade Metodista de Piracicaba a partir de quando?
Comecei a dar aulas na UNIMEP a partir do dia
1º de agosto de 1980. O Conselho se reunia para para aprovar os pretendentes.
Na época éramos três: Hercílio Bigni, Victor
Hugo Tejerina-Velazquez e eu. Fomos os três aprovados por unanimidade. Comecei
a lecionar na Universidade em 1980 onde trabalhei por 37 anos lecionando.
Quando entrei o reitor era Elias Boaventura.
Advogado militante, o Professor Rolim atuou em defesa de um cliente
importante. O advogado da acusação fez um calhamaço de 50 páginas com os itens
acusatórios, sendo que a primeira página estava com apenas uma frase: “Existem
razões que a própria razão desconhece”. Parafraseando Blaise
Pascal, filósofo, físico, inventor, teólogo, e matemático francês que afirmou “O
coração tem razões que a própria
razão desconhece”. O Dr. Rolim elaborou a defesa, com todos os requisitos necessários, e na
primeira página colocou apenas a frase: “Há algo de podre no Reino da
Dinamarca”; William Shakespeare. A citação de Hamlet: “Há algo de podre no
reino da Dinamarca” já indica ao leitor que não se trata somente de uma
vingança, mas de algo ainda pior, algo que transgrede a natureza humana. O
advogado da parte contraria telefonou, tinha gostado da citação! Ficaram
amigos!
Outra passagem folclórica aconteceu quando Dr. Rolim era vereador. Toda
vez que ocupava a tribuna era incessantemente interrompido por um determinado
vereador que também era fiscal. O impertinente vereador não deixava Dr. Rolim
falar. Sempre interrompendo. Isso foi ficando irritante. Em determinada sessão
camarária, Dr. Rolim iniciou dizendo: “ Quero parabenizar o vereador (citou o
nome do implicante colega), como sendo um vereador autuante! E discorreu fortes elogios utilizando a
palavra autuante. O vereador não percebeu a sutileza entre as palavras atuante
e autuante, uma referência a sua profissão de autuar infratores, na sua função
como fiscal. Embevedo pelo “elogio”, o vereador ficou de peito estufado. Nunca
mais interrompeu Dr. Rolim quando este ocupava a tribuna!
O senhor tem quantos livros lançados?
Lancei dois livros: um é de Direito Administrativo, nos
últimos semestres eu dava aulas de Direito Administrativo. O título é: “ A Administração
Indireta as Concessionárias e Permissionárias em Juízo” outro livro é voltado a
Introdução do Direito Romano, que é o livro “Instituições do Direito Romano”,
que está na 4ª Edição. Esgotada.
Continuo
recebendo citações referentes a essas obras, sendo que o livro Introduções de
Direito Romano dos Estados Unidos, Portugal, Espanha, Argentina. Eu fiquei no
seminário, estudando latim, Quando acordávamos o chefe de disciplina ia ao
dormitório e dizia: “Benedicamus Dominus” (Bendito seja o Senhor) nós falávamos “Deo
Gratias” (Graças a Deus). O latim me ajudou muito e facilitou a fazer o livro. Com
as mudanças de leis, um livro de Direito Administrativo por exemplo, tem que
passar por revisões periódicas, e as vezes dá mais trabalho revisar um livro do
que o escrever
Qual
é o segredo para manter esse bom humor?
Tenho
muitos amigos, antes da pandemia nos reuníamos semanalmente, para “jogar
conversa fora”, hoje também usamos o meio digital para bater papo. Um grupo se
reúne nas terças-feiras, outro grupo se reúne nas sextas-feiras, esse grupo tem
uns vinte anos, fazemos um jantarzinho. Gosto muito de cozinhar. Infelizmente essas
ocasiões ficaram raras, usamos o WhatsApp para as reuniões. Cozinho em casa
para os netos! Também gosto de viajar, já andei por boa parte da Europa, de
carro, fui para a Índia, Nepal.
O
senhor é religioso?
Sou católico, cursilhista.
As vezes dou uma palestra.
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